A Festa do Pontal: Inspiração para a Vitória

11 ago 2017

Em 1976, Portugal ainda mal começara a libertar-se do espartilho de um processo revolucionário através do qual certas forças político-militares tentaram implantar um regime comunista. O PSD assumia-se como um referencial da sociedade civil, defensor da integração europeia, de uma democracia plena própria de um Estado de Direito. Francisco Sá Carneiro era o seu líder, principal mentor, e farol de esperança para muitos milhões de portugueses.

No terreno, todavia, a implantação do PSD ainda conhecia dificuldades e resistências em certas regiões como a do Algarve, onde chegou atrasado ao processo autárquico, uma situação que levou muitos anos a ser corrigida. Num total de 16 municípios, o PSD só venceu em Monchique na eleição de 1976, atingindo o seu máximo (9 municípios incluindo o da capital, Faro) na eleição autárquica de 2009.

O PSD/Algarve atravessava naquele ano mais uma crise da sua atribulada existência inicial. Por demissão do presidente, era liderado por Filipe Abreu, então vice-presidente do órgão distrital. Sentindo a necessidade de criar algo que dinamizasse o partido na região algarvia, Sá Carneiro convocou Filipe Abreu para uma reunião em Lisboa, na qual também esteve presente Conceição Monteiro, e onde ficou acordada a organização de uma festa de confraternização que congregasse um número significativo de militantes, apoiantes e votantes do PSD.  Foram pessoas da estirpe de Leontina de Sousa, Manuel Benjamim, Jorge Pinto e Maria Emília Azevedo, quem escolheu o local (Pinhal do Pontal, nos arredores do aeroporto de Faro), e muito trabalharam para que nada faltasse aos participantes, em condições muito difíceis, num terreno poeirento totalmente desprovido de infraestruturas básicas.

 


"A Festa do Pontal é hoje uma das grandes manifestações da dinâmica social-democrata,

e herdeira das profundas raízes populares do partido desde a sua fundação"


 

Filipe Abreu falou pelo PSD/Algarve, e Francisco Sá Carneiro trouxe o carisma que marcou para sempre a mitologia em torno do evento, um sabor misto de resistência e de esperança no futuro. O sucesso foi imediato, passou as fronteiras da mata através do boca-a-boca de quem lá esteve. Os ecos na imprensa da época foram mínimos, mas estava lançada a Festa do Pontal até aos dias de hoje.

Teve intermitências, anos em que não se realizou. Vivi por três vezes a necessidade de a trazer de novo à vida, em 1985, 1996 e 2005, e sinto-me muito honrado por ter liderado em 14 edições equipas fantásticas de militantes que deram o seu esforço para que ela fosse possível. Teve momentos muito altos, em anos de poder nacional do PSD onde não parecia haver espaço para comportar todos os que queriam mostrar-se ao primeiro-ministro, e anos de depressão no deserto da oposição, em que as ditas figuras nacionais desertavam para outras paragens…

Mudou de sítio, do pinhal para a baixa de Faro, e daqui para o Calçadão de Quarteira, em 2006, onde se estabilizou até agora. A Festa do Pontal é hoje uma das grandes manifestações da dinâmica social-democrata, e herdeira das profundas raízes populares do partido desde a sua fundação. Com o mar ao lado, a Festa do Pontal é acima de tudo um ponto de reencontro e de convívio entre militantes e simpatizantes de todas as partes de Portugal, a que se juntam os que sendo emigrantes aqui estão em férias. É a “diáspora social democrata”. Uma aliança de gastronomia, música e mensagem política, para uma plateia atenta e participativa, dispondo de todas as infraestruturas necessárias. O seu impacto é tal, que se começa a falar da Festa um mês antes da sua realização, e os seus ecos perduram na comunicação social durante meses vindouros. Teve muitos detractores, que lhe diagnosticaram a morte vezes sem fim. Mas a força de vontade das bases do PSD, acabou por vencer. A Festa do Pontal está para durar!

Nem todos, mas vários líderes do PSD passaram por aqui. A presença de três deles foi marcante. Sá Carneiro, porque foi o inspirador e o precursor. Cavaco Silva, pelas presenças na década dourada do seu consulado governativo. E Pedro Passos Coelho, porque estará presente pela oitava vez consecutiva, e porque quando chegou à liderança, fez do Pontal de 2010 a sua rampa de lançamento para as Legislativas de 2011, que o PSD viria a vencer. Quatro anos mais tarde, agora em coligação, voltou a vencer as eleições, no balanço tomado no Pontal. Em 2017, ano de eleições autárquicas, o aroma inspirador do Pontal volta a estar na encruzilhada para a vitória. Para bem de Portugal!

 

José Mendes Bota

Ex-Presidente do PSD/Algarve e ex-Deputado