A irresponsabilidade paga-se

16 jan 2017

No dia 11 de janeiro realizou-se a primeira emissão de dívida a 10 anos de 2017. O juro exigido pelo mercado ficou 1,25 pontos percentuais acima de uma emissão análoga há um ano. Mas o que não tem sido dito nem comentado é que esse aumento se deve, única e exclusivamente, ao aumento do risco da dívida nacional. Na verdade, se o risco se tivesse mantido inalterado, a emissão deste ano teria saído mais barata que a de há um ano, porque a taxa base a 10 anos efetivamente desceu. Se o spread, que é a medida do prémio de risco que os investidores exigem, se tivesse mantido constante nos 205 pontos base da emissão de há um ano, e não tivesse aumentado para os 352 pontos base, na semana passada teríamos pago uma taxa de juro de cerca de 2,75%, em vez dos 4,23% que realmente vamos pagar. Em 10 anos são mais 440 milhões de euros. E isto já nem comparando com as emissões de 2015, ainda com o Governo PSD/CDS em que o spread pago foi de 155 pontos base.
Diz o Governo e o PS que este crescimento do prémio de risco se deve apenas à perspetiva de alteração da política do BCE. Ouvimos até no Parlamento que a solução tem de passar por mudar a política do BCE, imagine-se! Pois, mas o que devia preocupar o Governo era reduzir a dependência do BCE, não perpetuá-la, o que de resto corresponde a uma menorização da soberania nacional que devia ser considerada inaceitável. E dizem-se patrióticos…
Ao fim de mais de um ano de governação, a atual maioria tudo fez para exacerbar os riscos da economia portuguesa e aumentar a nossa fragilidade e dependência. Com o crescimento na Europa a acelerar, e as perspetivas de crescimento para Portugal a mostrar uma crescente divergência face aos nossos parceiros, a solução passa por promover a aceleração do crescimento da economia nacional, não por tentar convencer as instituições europeias a manter um apoio cuja razão de ser para a Europa como um todo está, e ainda bem, a desaparecer. É uma retórica fútil e uma fraca desculpa para as consequências que inevitavelmente virão.
E já agora, se tanto o Primeiro-Ministro como o Ministro das Finanças estão tão convencidos que a taxa de juro vai descer, como têm apregoado, porque não esperaram para emitir dívida e fazem os portugueses suportar um custo acrescido de centenas de milhões de euros?

 

Maria Luís Albuquerque
Vice-presidente do PSD