Entrevista a Carlos Costa Neves, novo diretor do Gabinete de Estudos Nacional do PSD
Carlos Costa Neves é o novo rosto do Gabinete de Estudos Nacional do PSD. Antigo ministro dos Assuntos Parlamentares e da Agricultura, Pescas e Florestas, o atual deputado social-democrata passa agora a tutelar o órgão que irá produzir conhecimento para fundamentar o combate político do partido.
Em interação com os restantes órgãos do PSD, o Gabinete de Estudos estará aberto a todos os contributos de quem pretender participar, estreitando a proximidade entre o partido de Pedro Passos Coelho e a sociedade civil. Uma missão em linha com os valores do humanismo e do reformismo, que o PSD preserva no seu ADN.
“A vontade é muita, a disposição é boa e o desafio é muito grande”, promete o novo diretor do Gabinete de Estudos, que terá como diretores adjuntos os deputados Miguel Morgado e Nilza Sena.
Qual a missão do Gabinete de Estudos Nacional (GE) do PSD?
A missão do GE deve ser preparar o essencial. Ser a vaga de fundo e não a rebentação, o que implica escolher muito bem os trabalhos que se fazem, ter consciência dos meios de que se dispõe e saber que todo esse trabalho se destina a sustentar a atividade do partido. Mas fazê-lo com tempo, não para os desafios do dia-a-dia. E aproveitando bem as energias e sinergias que possamos ter, de todos os que estão disponíveis – e são muitos – tendo sempre em conta que tudo o que formos fazendo é já, por si, também um contributo para o próximo programa de governo do PSD.
O GE deve fazer sempre um trabalho consequente e objetivo. Tenho esta preocupação porque sei que, para o dia-a-dia, temos órgãos mais indicados e que atuam com maior rapidez, como o grupo parlamentar no debate parlamentar e a própria Comissão Política no dia-a-dia. De nós, é esperado que fundamentemos esse combate político, mas fundamentemo-lo analisando as questões, tratando-as com mais detalhe e pormenor. O que não quer dizer que, sobre cada questão, se faça um tratado porque depois esse trabalho poderá tornar-se pouco operacional. Quer dizer que há uma grande preocupação em dar fundamentação às coisas.
E depois também não fará muito sentido elaborar esse trabalho e não ter em conta que ele deve ser aproveitado para algo mais extenso como o programa de governo.
De que forma o GE vai relacionar-se com os outros órgãos do partido?
Há uma série de entidades que existem no partido, com composições diferentes, mas que podem conjugar a sua ação. Devem conjugar e coordenar a sua ação e têm que interagir. Obviamente que o GE não faz trabalho para satisfazer a si próprio, para começar e acabar dentro de si próprio, tem que o dar a alguém. A nossa ação não é ter intervenção política junto da comunidade, é poder habilitar outros com o que nós prepararmos.
Se é assim – não para o debate do dia-a-dia mas, por exemplo, para iniciativas legislativas –temos que colaborar com o grupo parlamentar. Colaboramos também, de outra maneira, porque naturalmente os deputados serão também eles próprios membros do GE.
Em relação ao Conselho Estratégico, que, como o próprio nome indica, é um órgão de conselho à Comissão Política Nacional e ao presidente do partido, é óbvio que houve um grande cuidado na seleção das pessoas que dele fazem parte. Em determinadas áreas, e em que há pessoas especialmente habilitadas no Conselho Estratégico, obviamente que as consultaremos.
Em relação ao Instituto Sá Carneiro, podemos dividir tarefas. Entendo que o GE não deve ter iniciativas de base, como seminários, mas podemos fazê-lo em conjugação com o Instituto Sá Carneiro. Os vice-presidentes do partido, a Comissão Permanente, têm áreas de responsabilidade distribuídas e a definição de prioridades deve ser feita também com eles. Portanto, é preciso que possamos interagir para não desperdiçar energias e para podermos ser úteis.
De que forma o GE vai ajudar o partido a estar ainda mais perto da sociedade civil?
Todos vamos tendo a experiência de que há, felizmente, na sociedade civil, e não propriamente no dia-a-dia da vida partidária, imensa gente que quer colaborar. Todos nós, militantes do partido, já tivemos a experiência de alguém nos perguntar como pode ajudar e o que pode fazer. A nossa ideia é aproveitar essa disponibilidade, que é muito grande, de pessoas que estão interessadas em fazer algo, para além da sua vida pessoal e individual, que tenha a ver com políticas públicas e com o interesse comum. São exatamente essas pessoas que vamos aproveitar, que estão disponíveis e já nos contactaram, que já fizeram parte de iniciativas anteriores.
Uma das grandes forças do PSD é essa: ser um partido de grande abertura à sociedade. E não é por acaso que nós, orgulhosamente, nos qualificamos como um partido humanista. E um partido humanista valoriza a pessoa, a iniciativa, a responsabilidade e a participação.
Nisso, somos muito diferentes dos partidos de esquerda ou dos partidos que vivem à volta dos seus comités centrais. Nós acreditamos que água corrente é melhor do que água estagnada. Acreditamos que a soma da energia de cada um, individualmente, pode constituir uma força importante. Acreditamos muito no poder, na liberdade e na vontade de participar de cada um de nós. E há muita gente que se revê nesta perspetiva de se sentir útil, de poder participar e de dar alguma coisa de si. E é com eles que nós contamos.
Nesse sentido, o GE vai poder contar com todos os contributos de quem queira colaborar?
Todas estas coisas, para serem eficazes, necessitam de um grau de organização. O GE tem que ter tarefas previamente definidas e programadas. Tem que produzir algo e produzir algo de útil.
Com organização e eficácia, procuraremos que as pessoas que participam possam sentir aquela sensação boa – que eu, pelo menos, sinto – que é estar a ser útil. Vai ser útil desde logo a si próprio, porque não podemos perder de vista isso, aqueles que nos rodeiam, aqueles que são mais diretos a resolver problemas que são comuns. Afinal, estar no domínio do bem comum.
E também com uma preocupação que, às vezes nos falha, que é assegurar a memória do que fizermos. Até com as novas possibilidades que todas as tecnologias que usamos hoje, e que já nem chamo novas, nos dão, nós podemos e devemos ter esses documentos disponíveis, para serem consultados em cada momento, por quem os vai usar. Alguns serão abertos a toda a gente, alguns serão publicitados, mas outros serão aquilo que alimenta a ação do partido.
Não será certamente algo aberto a toda a gente, alguns serão publicitados, outros serão o pensamento que alimenta a ação do partido.
Uma das coisas que considerei essencial é não ser uma orquestra de um homem só. Vamos ter uma direção colegial, que terá mecanismos de substituição que assegurem o funcionamento além da minha disponibilidade, em determinado momento.
Vamos criar áreas de atuação, ligadas entre si, haverá elementos da direção responsáveis por cada área de trabalho e dentro dessas áreas haverá grupos de trabalho cuja composição pode ir variando consoante a importância de cada tema, a cada altura. Asseguraremos que os esforços são desenvolvidos de forma organizada e consequente.
Pode antecipar alguns dos nomes que farão parte da direção?
Está definido que os dois diretores adjuntos serão o deputado Miguel Morgado e a deputada Nilza Sena, mas a direção terá cerca de nove elementos. As restantes pessoas serão cidadãos que queiram exercer a sua cidadania e terá gente das universidades, da administração pública, da saúde, da educação, da banca, deputados e profissionais liberais, assim como ex-membros do Governo. Temos uma grande preocupação em interligar com os think-tanks.
Queremos aproveitar a vontade de quem quer ser útil. Quem lá participa não precisa de ter cartão de militante mas estará naturalmente ligado aos nossos valores e princípios.
Quais os próximos passos na organização do GE?
Vamos trabalhar por fases. Primeiro, pensaremos em termos de organização e sobre como trazer as pessoas que vamos responsabilizar pela direção, áreas e grupos de trabalho, que terão liberdade de trazer outras pessoas à sua escolha. Com essas pessoas e responsáveis do partido, vamos definir prioridades. Teremos de escolher o que fazer primeiro, com a preocupação de chocarmos com a responsabilidade de outras instituições mas organizar propostas. Queremos produzir e fazer, de forma discreta. Queremos fazer o nosso trabalho de forma útil e com tempo para pensar, conseguindo uma reflexão mais informada e profunda.
Essas prioridades relacionam-se de com a moção de estratégia global aprovada em congresso?
Sim. A direção do partido baseia-se numa escolha democrática, que assentou numa moção de estratégia, por isso esse será um bom documento de base. Não deixaremos de olhar também para os dois últimos programas de Governo com que o PSD se apresentou. Teremos em conta o programa do Partido.
Teremos também em atenção as áreas que venham a ser definidas como essenciais e em que divergimos profundamente do que está a ser feito neste momento. Há que ter em conta também que há muitas coisas que se mantêm atuais, que necessitam das mesmas respostas, que os nossos princípios e valores não se alteram assim mas também é verdade que o mundo de hoje se altera muito rapidamente… Há novas formas de abordagem soluções do passado que estão esgotadas e por isso vamos onde sentirmos que é mais necessário ir.
Tal como o Partido preserva o seu ADN reformista, não há medo de ir à procura de novas soluções…
Faz parte do nosso código genético. Somos humanistas e valorizamos as pessoas. O partido sempre foi reformador. Sempre tentou concertar o que estava mal e lançar novas ideias e abordagens. É natural que o GE queira estar na primeira linha no que são essas questões, no nos novos desafios do digital, nas grandes mudanças, onde não há posições feitas, onde as questões não estão refletidas.
A vontade é muita, a disposição é boa e o desafio é muito grande.
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